quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Amor de Carnaval

"Se tivesse acreditado nas minhas brincadeiras de dizer a verdade...teria ouvido a verdade que eu teimo em dizer brincando"

Anteontem, quarta feira o carnaval chegou ás cinzas. Era a quarta-feira de cinzas. O Carnaval acabou. Será que alguém viveu um relacionamento que junto com as cinzas acabou?No carnaval existe todo um relaxamento cultural, como bem lembram os mestres Carlos Rodrigues Brandão e Roberto DaMatta. Há no carnaval a liberdade para que homens se vistam de mulheres, mulheres de fadas, mendigos de príncipes , entre outras alegorias e adereços que nos são facultados somente naquele espaço e tempo.Então devido a essas limitações do tempo, podemos sentir no ar a excitação sentimental e sexual carnavalesca.
As pessoas querem mais é beijar, se divertir, fazer sexo com as pessoas sem a necessidade da transcendência do relacionamento.Os velhos preconceitos morais são neste momento mandados para a conchinchina. O medo do sexo é rompido pela regra da plenitude da felicidade. Acho que Renato Russo sempre foi feliz nos seus versos, e eles podem tomar um sentido mais amplo se aplicados ao Carnaval: “Disciplina é liberdade, compaixão é fortaleza, ter vontade é ter coragem...”*.A ousadia que se observa, determinada pelo afrouxamento das regras de conduta moral, são infelizmente mortas com a Quarta-Feira de Cinzas.
A sensualidade exacerbada já não mais existe na Quinta-Feira de Ressaca.Estava conversando com o amigo Paulinho na segunda-feira de carnaval e dizia pra ele que na vida nossos comportamentos são socialmente construídos. Assim, ninguém é Gabriela Cravo e Canela, porque ninguém nasceu assim, cresceu assim, é mesmo assim e vai ser sempre assim. No amor acontece a mesma coisa, aprendemos a viver o amor.
As amarras que nos aprisionam a um modelo saturado de relacionamento recebem um indulto no carnaval para viver, e não ter a vergonha de ser feliz, curtir a vida, que é bonita, é bonita e é bonita.Acabou o Carnaval, mas que possamos fazer da liberdade que vivenciamos neste momento a força motriz que irá determinar a nossa conduta.
Que a carapuça da cartilha que ensina como deve ser a vida , essa sim a única mascara que resiste após o Carnaval, seja jogada longe, nas profundezas do mar sem fim, e que possamos nos jogar no mar da felicidade plena, sem a hipocrisia do mito do amor romântico que insiste em se manter na nossa sociedade.
A grande verdade é que precisamos romper com o nosso modelo de relacionamento, este quase uma palhaçada, e devemos ouvir as verdades brincando, assim como no carnaval.


* versos da música Há Tempos

terça-feira, janeiro 09, 2007

Amor e Sexo no Trabalho
“Onde se ganha o pão não se come a carne” – ditado popular

Muito comum ouvirmos as pessoas parcelarem suas vidas: vida profissional, vida social, familiar, amorosa e sexual, a dita vida intima. Para além de uma grande inverdade, essa noção está em processo de esfacelamento. Não somos várias pessoas, e sim uma só, e, portanto não podemos separar em vários prismas nossas vidas.
E o que acontece quando no ambiente de trabalho começamos a nos envolver com o colega de trabalho? O que fazer quando ocorre aquela paquera, aquela troca de olhares? E quando pinta aquele clima?
Esta é uma situação que por muito tempo foi solenemente ignorada e que agora emerge com grande força e tem produzido grandes estudos na área da organizacional.
No mundo globalizado, a nova forma da ditadura do capital, as pessoas passam horas infinitas dentro do trabalho, nas suas formas mais variadas de labuta, e não raro passam a conviver no dia a dia com os companheiros, e, para não viverem numa relação de gelo, com o tempo passam a ter mais intimidade um com o outro, e segundo estudos, de cada dez colegas de trabalho no momento em que você lê este blog, quatro estão se relacionando.
O ambiente de trabalho facilita relacionamentos na medida em que coloca sob o mesmo espaço pessoas com graus de instrução semelhantes, nível sócio econômico provavelmente semelhante, e outras características que convergem. Então há um ingrediente a mais que facilita um relacionamento entre duas pessoas, que em muitas vezes resulta em namoros e casamentos.
Mas os relacionamentos amorosos dentro do local de trabalho não são um mar de rosas como muitos pensam. O modelo de um casal feliz que se conheceu como colegas de trabalho e que hoje são parceiros de vida não revela uma faceta muito importante: como administrar uma relação sem acarretar prejuízos para a carreira?
As pessoas vão ao trabalho para trabalhar. Alguém poderia dizer que esta afirmação não sai da obviedade, mas esta é a postura de varia empresas que ainda não se reciclaram para poder valorizar o capital humano e ver que é preciso intervir com os recursos humanos dentro desta ótica.
Todos saem de casa para trabalhar, mas eventualmente as pessoas acabam se envolvendo com o colega de trabalho, e quando a situação fica restrita a um ficar esporádico não se tem problema algum. Entretanto, as pessoas se preocupam quando o relacionamento toma proporções de namoro, mas lembrar que começar um namoro no trabalho não é de forma nenhuma vergonhoso.
É preciso antes de tudo saber se a empresa tem nos recursos humanos uma política de relacionamentos, para poder regular as relações. Algumas empresas permitem o namoro entre seus funcionários, outras optam por crivar essas relações, permitindo somente entre funcionários de departamentos diferentes, e outras não o permitem, e infelizmente há dispositivos na lei que dão a empresa poder para tal, que á a chamada incontigência de conduta, ou seja, a não adequação do funcionário no regimento da empresa, o que pode determinar justa causa, o que faz com que as empresas estejam legalmente respaldadas a proibir namoros entre seus funcionários.
Mas existe um código de bom senso que nos permite tirar algumas conclusões. É preciso evitar dar beijos, abraços e caricias mais intimas no horário de trabalho, pois isto poderia incorrer numa situação constrangedora para as pessoas que estão ali.
Quando a relação se torna um namoro, noivado ou casamento é importante que entre as partes envolvidas não haja uma relação de subordinação, para que num futuro não se venha a ter problemas na justiça trabalhista quanto a questões de assedio sexual ou moral.
Todo casal briga, e pelos aspectos negativos serem amplamente superiores aos positivos, porem mascarados, vez ou outra (ou vez em sempre como Regina Navarro analisa) é preciso que os problemas sejam resolvidos fora da empresa, e também por isso é importante que se possível ambos peçam transferência para outro departamento.
Os fofoqueiros (como sempre) estão de plantão. Por isso é importante também que se tenha um código de ética, pois alguns deslizes podem arruinar a carreira de ambos na empresa.
Assim, quando os namorados tiverem certeza de que querem engatilhar um namoro firme é bom não esconder, e contar primeiro ao chefe, afinal é melhor ele ouvir da boca do funcionário que pelas palavras distorcidas pelos agentes da fofoca.
É igualmente importante que as pessoas evitem conversar sobre seu relacionamento amoroso, não chame o parceiro (a) pelo apelido carinhoso que só mesmo cupido explica, não ter demonstrações explicitas de desejo, e fundamentalmente de ciúme dentro do ambiente de trabalho.
Marco Antonio era encarregado de produção de uma empresa de laticínios, sempre adotou uma postura de machão na frente dos colegas de trabalho, e, portanto machista, e vivia gloriando-se de sua vida sexual tida por ele como plenamente satisfatória para ele e para a parceira com que estivesse no momento. Márcia, assessora de ralações internacionais da empresa, o conheceu lá mesmo. Começaram a namorar e foram viver juntos numa relação estável.
Certo dia Márcia, brigada com ele, reclamou com Timóteo, seu colega de departamento, sobre sua vida sexual, e o problema de disfunção sexual de Marco Antonio, que tinha ejaculação precoce e não dava prazer para ela. A historia rapidamente espalhou-se pela empresa e Marco Antonio, passou a ser questionado na sua dita masculinidade.
É claro que a empresa, como um reflexo da sociedade, está fortemente impregnada por vários mitos sexuais, o que não é agora o mérito da questão, mas consegue nos dar a dimensão da questão dos relacionamentos num ambiente de trabalho: é preciso ter discrição e, fundamentalmente, maturidade para separar não a vida, mas as conveniências do momento.
Célio se separou de Simone e terminaram um casamento de cinco anos, ambos se conheceram na empresa. E devida à crença nos versos de Renato Russo “se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar, que tudo era pra sempre, sem saber que sempre pra sempre acaba”, tiveram maturidade para não deixar que o fim do seu relacionamento como marido e mulher acabasse com uma ótima relação como colegas de trabalho.
Essa postura de “o amor acontece enquanto dura” é fundamental para que a pessoa mantenha uma auto-imagem positiva o suficiente para não tornasse abatida a ponto de comprometer sua produtividade, e por conseguinte sua competência como profissional. É preciso que as reações emocionais, como é o caso também das explosões de ciúme, não acabem por superar as condutas racionais.
Mas é claro que temos vários aspectos positivos a destacar. Quando estamos surfando na onda da paixão fazemos as tarefas com mais entusiasmo, e nos dedicamos com mais afinco, e obviamente produzimos mais e melhor. É claro que como isso interessa ao empresário, a mentalidade de afrouxamento nas normas de relacionamento ganhou espaço, pois há mais exploração do empregado agora fechado por um cupido.
Falei bastante do relacionamento em si, mas e o sexo? É fundamental (e deveria colocar várias exclamações aqui) que é preciso ter cuidado para não ficar sozinho em ambientes com o namorado, para não despertar aqueles velhos comentários de quem não tem muito o que fazer, e também (com mais exclamações ainda) não se iludir com as cenas de filme norte-americano: transar sobre a mesa do escritório. Se alguém flagrar o RH terá somente uma coisa a fazer: demissão.
Bom, mas a temática parece muito heterossexista. E será que não temos gays nas empresas? Sem comentários.
São poucas as empresas que possuem uma política estruturada de diversidade sexual e de respeito no ambiente organizacional. Recentemente li que a IBM definiu sua política para os funcionários homossexuais da empresa, e isso é fundamental para que possamos pensar em respeito no ambiente de trabalho, uma vez que é lá que mais de um terço dos relacionamentos começam e que é ao mesmo tempo o espaço em que a pessoa passa mais tempo nesta época de globalização.
O ambiente de trabalho, novamente como um dos componentes da sociedade como um todo ainda é fortemente preconceituoso, e não raro pessoas são demitidas sob qualquer cínico argumento, mas fundamentalmente porque são homossexuais. E daí o que fazer? Para quem é demitido é mais fácil para um homossexual chegar em casa e dizer: mãe, resolveram reduzir o quadro funcional da empresa, e ai eu sai.
Essa situação tão comum por muitos gays que são demitidos em função de sua orientação sexual deve ser barrada nas empresas. É claro que o preconceito é tão grande que só falamos de homossexuais excluindo-se as travestis, afinal nunca vi uma empresa de engenharia contratar uma travesti para ser responsável por qualquer função, e por isso vão para as suas tradicionais profissões na sociedade: cabeleireiras e profissionais do sexo.
A maioria dos homossexuais ainda vive no armário (gíria usada para quem não se assume como gay e adota uma postura de heterossexual). Quanto a se apaixonar, o que ocorre muitas vezes é que um homossexual se apaixone pelo colega de trabalho e não decida investir, pois tem se medo muito grande da descoberta. Ou então, a colega de trabalho investe num flerte com ele, e para manter as aparências ele acaba por aceitar a relação.
No caso de homossexuais assumidos, que por sua postura geralmente tem mais ou menos respeito dentro do ambiente de trabalho, o caso se torna, paradoxalmente, pior. A pessoa acaba por não investir em colegas, mas ao receber uma investida geralmente fica com receio de apenas ser uma brincadeira de mau gosto dos colegas de trabalho para ver a sua reação.
Em resumo, se para uma pessoa heterossexual já é conturbado manter um relacionamento no trabalho, essa situação toma contorno de conflito existencial para um homossexual.
Meu desejo é que possamos viver cada dia mais liberdade para as experiências amorosas nos relacionamentos de trabalho, sejam homo ou heterossexuais, e que as empresas criem espaços reservados aos casais da empresa que queiram desfrutar de um momento mais intimo nos seus intervalos.
Abraço e até a próxima postagem.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

A Bissexualidade: Estágio ou Condição?

Acho que gosto de São Paulo e gosto de São João, gosto de São Francisco e São Sebastião, e eu gosto de meninos e meninas (Renato Russo – Meninos e Meninas)
João Roberto era o maioral, o nosso Johny era m cara legal, ele tinha um opala metálico azul, era rei dos pegas na Asa Sul, e em todo lugar, quando ele pegava no violão conquistava as meninas e quem mais quisesse ter (Renato Russo - Dezesseis)

O campo da sexualidade humana é terreno fértil para a construção e disseminação de mitos sexuais e de gênero, e um deles, de grandes proporções e não compreendido por muitos, é a bissexualidade, enquanto orientação do desejo afetivo-sexual (termo revisto de opção sexual).
A bissexualidade é uma orientação sexual, juntamente com a homossexualidade e a heterossexualidade, que se caracteriza pela excitação sexual do indivíduo por ambos os sexos, são assim duas formas de sentir prazer.
Cazuza, que conseguiu ser o expoente máximo da tríade sexo, drogas e rock in roll, é talvez o artista bissexual mais famoso, o que nem assim conseguiu a bissexualidade na sua essência. Ano passado a famosa cantora Ana Carolina apareceu na capa da Revista Veja, cujo título era “Sou Bi, e daí?”. Na reportagem aparece dizendo que acha normal uma pessoa gostar dos dois sexos, e segundo a reportagem, representa uma nova geração que não esconde as preferencias sexuais, mas que não toma a sexualidade como bandeira de luta política.
João é um adolescente de 18 anos, sempre foi visto pela família, pelos amigos e professores como um rebelde. É caracterizado como uma pessoa sem papas na língua, que fala o que vem a mente. E embora tivesse namorada, arranjava também namorados ou ficantes. Seus pais souberam e pensam que com o tempo e maturidade ele “escolheria” um dos lados, de preferencia o hétero.
Valéria é uma professora universitária de 36 anos, casada, que embora se sinta atraída por pessoas do sexo oposto, sempre sentiu desejo por mulheres. Teve casos esporádicos com outras mulheres, mas com a solidão que tem afetado sua vida de casada, a chamada solidão a dois, resolveu entrar em sala de bate papo pela internet e conheceu Camila. Hoje mantém um caso com Camila, e vive a chamada vida dupla, pois tem medo do preconceito, que a xinguem de sapatão, entre outros.
O título acima, para além do questionamento natural, se deve ao fato de que muitos insistem em ver a bissexualidade como um estágio ou fase na vida da pessoa, que ainda estão confusas em suas preferencias sexuais, e que num futuro terão mais clareza sobre o desejo por homens ou mulheres.
Esse grupo geralmente adota uma visão extremista da sexualidade humana, dicotomizando a sociedade em pessoas que são homo e heterossexuais. E não colocam assim um elo de ligação, ou seja, os bissexuais, as pessoas que são excitáveis por ambos os sexos.
Por isso a bissexualidade é neste sentido a orientação sexual que mais causa polêmica. Daí a pré-noção de que o bissexual é uma pessoal mal resolvida, em cima do muro ou promiscua.
A AIDS surgiu na década de 80. O discurso dos conservadores afirmava que a doença era uma resposta ao comportamento promiscuo e vida errante dos homossexuais, daí na sua gênese ser chama de “câncer gay”. Então, como explicar que depois de um certo tempo, os casados, geralmente defensores da moral e dos bons costumes, estivessem contaminados? É claro que , excluindo-se as transfusões de sangue contaminado e o contágio através de profissionais do sexo, , a vida dupla de homossexuais e também bissexuais era a resposta, através da falta de prevenção, ou seja, camisinha. Aí está , por conseguinte, o cerne do preconceito contra bissexuais: eram acusados de gays enrustidos e de que estariam contribuindo com a disseminação da AIDS dentro do casamento.
Acerca da hipotese da fase bissexual, a bissexualidade tem uma certa invisibilidade social. Ninguém xinga outra pessoa de bissexual, preferem os termos bicha louca, veado, gayzinho, entre outros. A própria entidade que defende a diversidade sexual em nível nacional , a ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgeneros) não contempla a bissexualidade em sua própria sigla.
Muitas pessoas terminariam um relacionamento se descobrissem que seu parceir@ é bissexual. O motivo? Ciúme e medo de uma dita traição, pois quando se é homo ou heterossexual sabe-se de qual sexo ter ciúme, mas para o bissexual ambos os sexo servem e o parceiro não sabe de quem enciumar-se.
Existe também uma tendência de pessoas que acredita que o bissexual existe, mas não pensa em se relacionar com ele porque este estaria no ápice de uma hierarquia de promiscuidade, conforme já colocado anteriormente. Argumentam que a pessoa de fato gosta dos dois sexos, que o homem pode Ter uma linda mulher, que o satisfaça plenamente, mas sente desejos por homens também, e a qualquer hora pode traí-la.
Uma crença errônea é de que o bissexual sente desejo por ambos os sexos na mesma intensidade. Falácia. Existe uma inclinação maior para um dos sexos, variando de pessoa para pessoa. . Ocorre com mais freqüência o bissexual sentir uma maior atração afetivo-sexual por um determinado sexo, o que não exclui o outro sexo, daí a bissexualidade.
Dentro desta prerrogativa poderemos voltar a discussão do armário. Pelo fato do bissexual sentir em maior intensidade desejo por um dos sexos , quando este caso for pelo sexo oposto vamos observar a existência da vida dupla. Ai se assume perante a sociedade uma postura heterossexual com escapas esporádicas devido a pressão social.
Quanto aos que nesta lógica sentem desejos viverão uma grande inquietação pelos sentimentos, ficarão pela força da crise psicológica interrogando-se freqüentemente sobre sua sexualidade.
Todavia o bissexual ao ficar com uma pessoa do sexo oposto não o faz por aparências, para tentar demonstrar ser hétero, e sim por prazer. Isso é um fato, e muitos infelizmente não a compreendem. Isto faz com que o bissexual possa ficar mais tempo dentro do seu armário, por assim dizer. Este fato por si só faz com que tenhamos inúmeros bissexuais no armário
Alfred Kinsey, sexologo norte-americano, realizou pesquisas sobre sexualidade humana e chegou a conclusão de que a orientação sexual é como um espectro. Nos extremos temos os que são exclusivamente homo ou heterossexuais , os que são predominantemente homo ou heterossexuais e os que são bissexuais, no meio, mas com uma boa representatividade.
Os heterossexuais, mesmo que neguem por uma questão de machismo ridículo, em algum momento da vida já sentiram atração ou desejo homo. Daí o caso de um cara hétero no vestiário da academia olhar de rabo de olho pro pênis do cara ao lado, e não se trata de medir apenas pra ver se o seu é maior ou menor, é um desejo que ele não sabe explicar nem administrar, mas que não vai adiante pelo medo, paradoxalmente, de ser taxado de gay. Também quase todo gay já sentiu desejos héteros pela melhor amiga. É desnecessário dizer que estas situações são mais comuns do que pensamos e as vezes tentamos negar.
Mesmo sem nenhuma base cientifica tenho a convicção de que o desejo afetivo-sexual depende do momento e do nível de excitação entre as partes envolvidas, assim a ocasião faz o ladrão. E assim haveria uma transcendência do termo orientação sexual.
Na música Dezesseis , Renato Russo sugere que Johny era bissexual, pois ao tocar o violão ele conquistava as meninas e quem mais quisesse Ter, ou seja, meninos. Assim, de forma implícita , é a forma como a bissexualidade é vivida pela maioria das pessoas. Desde a mais tenra idade o bissexual aprende que deve apresentar as namoradas e esconder os namorados. Isso é bem claro nesta díade explicito (conquistava as meninas) e implícito (e que mais quisesse ter), e este outro armário contribui para reforçar estereótipos quanto a bissexualidade.
Meu desejo é que tenhamos a faculdade de reconhecer que a bissexualidade não é uma fase ou imaturidade sexual. Quando chegarmos a esta consciência chegará um tempo em que haverá transito das pessoas com maior tranqüilidade entre os dois sexos. As pessoas irão mostrar-se capaz de amar e de se envolver emocionalmente com os parceiros, sejam homens ou mulheres, independente dos padrões morais da sociedade.

sábado, dezembro 30, 2006

Relacionamento, Sexo e Internet


Neste momento em que o aprendiz de feiticeiro dono deste blog escreve são 1:40 h da madrugada. Em mais uma noite de insônia escrevo este humilde artigo. Não posso negar que o pior aspecto da insônia é que ela nos acomete a noite, quando as pessoas dormem e não temos por conseguinte com quem nos relacionar, mesmo em nível de amizade.
Entretanto, assim como quem vos escreve, milhares estão sem sono, e poderiam simplesmente entrar numa sala de bate papo da internet e conversarem. Mas obviamente a internet não é apenas um último recurso dos que têm insônia, ela está aí para todos.
Aí vão duas pequenas historinhas para ilustrar um pouco.
Neto estava de folga e entrou num chat (sala de bate papo) da internet, e começou a conversar com Michele. No desenvolvimento da conversa um dos dois precisa sair, mas combinam de entrar no dia seguinte, e assim aconteceu. Certo dia Michele comentou no chat que estava excitada, e ambos optaram pelo sexo virtual, ou o sexo pela internet. Fizeram, gozaram. Depois, no decorrer de conversas resolveram trocar telefones, marcaram um local, e posteriormente se conheceram. Hoje vivem juntos numa união estável.
Felipe, um adolescente de 17 anos, que é bissexual entrou numa sala de bate papo e conheceu Dailson, um jovem universitário de 21 anos e homossexual. A principio houve muita conversa e não coube espaço de liberdade para uma troca reciproca de telefones, visto que ambos ainda não saíram do armário, gíria usada para designar aqueles que vivem a vida dupla: aparentam ser heterossexuais, mas escondem da sociedade seus desejos por pessoas do mesmo sexo.
Como se sabe a Internet surgiu como um canal de comunicação entre o serviço de inteligência dos Estados Unidos , a CIA, durante o período da Guerra Fria. Com o fim da tensão entre os dois blocos, houve uma popularização da internet, a ponto do mundo hoje quase parar sem a internet, e assim surgiu as salas de bate papo. Os exemplos acima, é claro, não dão conta de toda a dimensão dos participantes das salas de bate papo, e menos ainda da Internet como um todo, mas nos permite algumas boas reflexões.
A tecnologia cause, sem dúvida, medo nas pessoas. Talvez os versos “mas é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem” , composto por Belchior e eternizado na linda e bela voz de Elis Regina, nos dá a dimensão deste pavor das pessoas quanto ao que é novidade, e acriticamente já lhes causa estranheza. Muitos disseram que os chats eram o topo da solidão humana, em que pese o argumento de que o homem iria se relacionar somente com a máquina. Entretanto é toda uma relação com a outra pessoa, no qual as distancias são minoradas e a aproximação entre duas pessoas é cada vez maior.
Predominava a idéia de que duas pessoas que se amam não podem estar longe uma da outra, de que não existe amor a distância. Mas com a Internet podemos repensar essa lógica ilógica de relacionamento, na medida em que as pessoas podem estar longes na distancia, mas perto em relacionamento.
Ainda dentro de um discurso conservador, argumenta-se que o terreno mais fértil para as mentiras é a internet. Eu mesmo já menti (e também pergunto quem nunca o fez). Quando perguntado sobre minhas características físicas, respondi: moreno cor de jambo, alto, corpo atlético, sarado , coxas grossas e barriga de tanquinho.
De fato as pessoas mentem sobre a beleza, bem como o status social, profissão, entre outros. Mas num item não se pode mentir: as características da personalidade, como o humor, a inteligência, entre outros que podem ser apreendidos a partir da força da narrativa.
Todavia, com o passar do tempo as pessoas vão gostando da pessoa como pessoa, e não pelos atributos físicos, o que permite fugir da tão massacrante ditadura do corpo.
Mas o que acontece quando se marca um encontro na internet e a pessoa se atrasa para entrar no chat? Nada mais que o sentimento de rejeição. Assim, existe tanta diferença de um relacionamento virtual para os relacionamento reais? Creio que não.
Mas como fica o Sexo virtual? Ainda causa confusão na cabeça de muita gente a idéia de um relacionamento de amizade ou namoro pela internet, o sexo nem se fala. Como o sexo real há todo um estímulo para a excitação, algo fundamental na relação (alguém discorda disso? rsrsrs) e diante disto, a partir do que é dito pelos parceiros é quase possível sentir a presença do outro para a relação, e isso talvez transcenda uma simples masturbação, porque se depende do outro, o que não garante menor qualidade na relação, e sim a intensidade do orgasmo. E com a internet as pessoas passam a ter mais liberdade e ousadia nas suas fantasias sexuais, que são ou podem ser vividas com mais intensidade.
Com muita certeza alguém disse que nada deixa de ser aproveitado pelos homossexuais. Depois da revolução da informática, a era da tecnologia da informação passa a ser encarada pelos homossexuais como uma importante ferramenta para a conquista de novos relacionamentos amorosos, para a continuidade do armário ou para que se possa simplesmente fazer amizades, o que não é o mais freqüente na vida dos glbtt.
O espaço cibernético tem um numero significativos de chat’s para homossexuais. Quanto a permanecer no armário o chat é um dos maiores ícones para demonstrar que de fato existem mais homossexuais ou bissexuais do que se imagina.
Muitos estão sequiosos por companhias e excitação sexual e o espaço cibernético está aberto 24 horas por dia, aí é possível conversar ao mesmo tempo com pessoas de variados perfis e Ter a oportunidade de escolher qual se enquadra na idealização romântica.
Empresários, médicos, militares são comuns quando em dia de folga procuram dar uma escapada. A dimensão simbólica da linguagem estabelece códigos que dão conta de um breve perfil da pessoa, antes mesmo que se inicie um bate papo. Símbolos como h x h dão conta de um homossexual; a idade que é colocada posteriormente ao nick ; a palavra local, que indica que a pessoa tem um espaço real para o prazer sexual; macho ou discreto, que indica o papel de gênero da pessoa e o semelhante que ela procura; cam, que indica que se possui uma web cam, o que possibilita posteriormente a conversa o inicio de um possível sexo virtual, e tantos nick’s que indicam que o alto grau de erotismo numa sala de bate papo, o que não significa um referencial de promiscuidade.
Durante muito tempo ter fantasias sexuais era um símbolo de promiscuidade. Com a revolução sexual houve os estigmas foram em parte quebrados. Com a internet a possibilidade de desenvolver as fantasias são grandes e sem o pudor que a sociedade hipócrita impõe.
A Internet garante a impessoalidade , o anonimato, que são garantias do continuar no armário. É tanto comum achar adolescentes em casa aproveitando a ausência dos pais para garantir.
As perguntas básicas após o inicio de uma conversa virtual é saber de onde a pessoa está conversando (tc de onde ? ), saber a idade, saber as características visuais da pessoa do outro lado. As formas corpóreas são largamente utilizadas como um recurso publicitário de si mesmo, para que se possa ter mais pessoas conversando. Imagens como a de um corpo atlético, ou de um rostinho angelical são um dos cartões de visita.
Evidentemente a Internet não somente foi usada como ferramenta facilitadora de novos relacionamentos. Como aproxima as pessoas no mundo todo, ratificando o planeta como uma verdadeira aldeia global em tempos de globalização, contribui imensamente para a democratização das informações sobre sexo e sexualidade. Assim, muitos jovens que , devido ao estigma da homossexualidade, não tinham coragem de fazer perguntas sobre seus sentimentos para alguém dada a grande carga de preconceito existente na sociedade, acharam na internet as respostas para suas dúvidas. Sem duvida, isso ajuda deveras o adolescente a entender um pouco mais de si mesmo.
Quando digo que nada nos escapa não deixo de incluir o preconceito. Muitas vezes cheguei a ouvir sobre o “perigo” da internet. Advertências aos pais eram dadas sobre o grande numero de homossexuais que existiam na rede. E os pais infantilmente alertavam os filhos e pediam para eles não entrarem nas salas. O preconceito não deixa as pessoas perceberem que se o filho for heterossexual não será uma simples cantada via internet que lhe vai recrutar para o mundo homossexual. E o preconceito também não permite que se abra os olhos para os acontecimentos passados, pois quando não havia internet homossexuais usavam outro espaço para poder caçar, por assim dizer, como no shopping, no cinema, ou em tantos outros espaços que a pequena folha de papel não permite , por razões de logística, escrever.

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Ano novo, Amor Novo? Parte II

Volto com o tema do ano novo e suas expectativas sobre os nossos relacionamentos amorosos.
Faz parte da sensação de um ano novo todo um exercício reflexivo sobre o ano que passou, e , se estamos sozinhos, sonhar com um novo amor, ou se estamos com alguém torcer para que a relação melhore.
Começemos pelos que estão "sozinhos". Na nossa cultura procuramos estabilidade e felicidade, mas estamos condicionados que só teremos esta plena realização se tivermos com outra pessoa para nos completar, ou seja, a nossa dita alma gêmea, e cremos que alguém como parceiro (a)
é indispensável, e isso reforça um modelo de dependência amorosa entre duas pessoas.
Acontece que algumas pessoas caem em profundo estado de depressão quando não tem ninguém para trocar presentes dia 12 de Junho. São pessoas que beberam na fonte da felicidade que diz como deve ser a vida, e que as pessoas tem que manter uma relação estavel com alguém para serem consideradas maduras, caso contrário o sentimento de solidão e abandono passa a ser tão constante quanto o ato de respirar, e então vemos que essa tal felicidade é realmente como um pote de ouro atrás do arco-iris: nada mais que balela.
Todavia, também existe um outro lado da moeda: os que optam pela manutenção de relacionamentos que são que são frustrantes na sua essência. Os sujeitos dessa relação se submetem de tal forma á estruturas tradicionais de relacionamento que preferem uma relação muitas vezes insuportável a viver "sozinhos", preferem , neste sentido, suportar o insuportável.
Novamente o medo da solidão une essas duas situações: os que estão num exercício incessante de busca de um relacionamento estável e os que preferem os frios relacionamentos com medo de uma dita solidão.
É claro que estas concepções equivocadas tem base histórica, afinal segundo a Bíblia , que rege o modelo de conduta no Ocidente, a partir de uma perspectiva judaico-cristã, Deus criou Eva para que Adão não se sentisse só. E a predominância desta convicção errônealeva as pessoas amanterem relacionamentos que só geram opressão e sofrimentos ás partes envolvidas.
Não quero ser taxado de não atentar para a diversidade sexual. Portanto para os gays a situação gera proporções maiores, ainda que muitas nao atentem para este lado. Devido o grande número de parceiros através do alto intercâmbio sexual de uma parcela significativa, como por exemplo a cultura da sauna ou do banheirão, os relacionamentos são muito situacionais.
Para muitos , embalados pelo mito da juventude, e por uma leve liberalização dos costumes é tolerável entre dois jovens, mas não entre duas pessoas de meia idade, os chamados ursos. Por isso é latente em muitos homossexuais o desejo de num futuro constituirem um tradicional modelo de família, o que constribui consideravelmente para que fiquem dentro do armário.
Assim, continuamos acorrentados na ditadura do relacionamento estável, cujos aparelhos ideologicos sao sustentados a ferro e fogo. O meu desejo para o ano novo não é um amor novo, mas que possamos construir uma verdadeira revolução sexual, que agregue liberdade sexual e sentimental para construirmos uma sociedade libertária, e para todos os que querem gozar a liberdade e a felicidade fica o meu mais sincero voto de FELIZ ANO NOVO.

domingo, dezembro 24, 2006

Chegamos ao final de mais um ano, as esperanças renovam-se, as expectativas aumentam e os anseios recrudescem. As pessoas desejam a si mesmas sucesso em vários aspectos da vida: profissional, social, politica, e fundamentalmente amorosa.
O alcance da felicidade para muitos é conseguir um aumento de salário, uma promoção no emprego, mas todos desejam uma vida amorosa satisfatória.
Conforme chega o fim do ano as pessoas sentem-se como num último capítulo de novela ou a parte final de um conto: as pessoas têm de arranjar um parceiro (a) para ser feliz plenamente.
Há um modelo de felicidade , sustentado numa idealização romântica, que impõe que para se ter uma vida satisfatória é preciso ter uma relação fixa e duradoura, e quem não chegar a este padrão derelacionamento não pode ser feliz.
É claro que muitas mudanças sociais ocorreram: o casamento já não é mais a regra, cedeu lugar á união estável, mas infelizmente a mensagem que fica é que umrelacionamento estável com alguém é fundamental.
O mito da alma gêmea é continuamente reforçado pela cultura de massa e cultura popular nesta época do ano em que se abrem novas esperanças de uma vida feliz. A busca incessante da "outra metade" como forma de complementação irá gerar duas situações: opressão e sofrimento na medida em que as pessoas optam pela manutenção de uma relação desgastada e infeliz, ou que no próximo fim de ano as pessoas renovem essa alentação por dias melhores necessariamente ao lado de alguém.
Que o ano que entra nos faça refeltir acerca deste padrão de relacionamento, e que possamos nos libertar deste paradoxal modelo opressor de felicidade.